O sentido do ócio é trans-racional
A ausência de sentido tem um caráter trágico. Mircea Eliade ensinou-nos que o sentido se associava tradicionalmente a três elementos que marcariam a história da civilização ocidental: a relação da pessoa consigo mesma, com o mundo e com o mistério. Estes elementos, tradicionalmente unidos, foram-se separando a partir da Ilustração, quando os seus seguidores os orientaram, retomando o pensamento grego, em direção à verdade e ao verdadeiro; mas onde estão agora a verdade e o verdadeiro neste nosso contexto de realidade digital e virtual?
O sentido do ócio não é racional, mas trans-racional, faz parte do almejado, querido e desejado, daí que esteja relacionado com a transcendência, nos seus múltiplos significados, e com o simbólico. Isto faz com que não seja fácil identificá-lo, porque não corresponde ao que é dito, a como é dito ou ao que se faz, mas com o que se quer dizer com tudo isso. A. partir deste ponto de vista, o sentido do ócio aparece como um elo que une o presente real a um futuro desejado, um vínculo que nos abre ao mundo exterior e, ao mesmo tempo, permite-nos aprofundarmo-nos em nós mesmos. É algo mais do muito que nos proporcionam as experiências de ócio valioso.
Fotografía: Ildefonso Grande Esteban.
Texto: Manuel Cuenca Cabeza, Sentido del ocio a lo largo de la vida, Publicaciones de la Universidad de Deusto, Bilbao, 2023.
Traducción: María Manuel Baptista.