A educação pessoal do ócio
A educação pessoal do ócio
Considerada como educação do ócio no período escolar e educação ao longo da vida, o seu objectivo é o aperfeiçoamento, satisfação e melhoria da qualidade de vida. É uma educação centrada na pessoa, sem perder de vista que o conceito de pessoa se entende aqui na vertente individual, social ou comunitária. A educação pessoal do ócio defende o desenvolvimento de uma pessoa livre e independente, mas também integrada e solidária com os restantes. O seu grande desafio, na hora da prática, é que as actividades de ócio separam-se do simples “matar o tempo”, transformando-se em experiências positivas significativas. Mas isto não é algo que resulte de fácil desfrute; fazer coisas que foram descobertas recentemente na nossa evolução (música, poesia, arte…) é uma tarefa difícil.
A educação deve ocupar-se que as pessoas sejam capazes de obter as máximas possibilidades e benefícios das suas experiências de ócio, seja este casual ou substancial. Mas parece evidente que o desenvolvimento de um ócio substancial, criativo ou solidário, não é uma questão de azar, mas resultado da educação pessoal. Daí que, educativamente falando, Douglas A Kleiber assinale que “ Supõe uma falta de perspectiva central somente naquelas destrezas que conduzem em última instância a um trabalho remunerado e a utilizar sistemas de gratificação que consideram a aprendizagem como um meio para obter um fim. O cultivo de interesses e destrezas relacionadas com o ócio oferece toda uma vida de desfrute, assim como um panorama de oportunidades para participar com os outros na comunidade”. Na perspectiva do autor, o mais importante é que a motivação intrínseca e o desafio pessoal inerente às afeições constituam a base da aprendizagem e facilitem a tarefa de desenvolver compromissos e vocações.
Apesar da falta de programas e currículos, a Educação do Ócio tem um enorme potencial para levar a cabo a educação para a vida. Felizmente, cada vez existem mais documentos e declarações internacionais e governamentais com claras indicações a esse respeito. A maior parte das estratégias educativas, relativas ao desenvolvimento de valores, atitudes e destrezas do ócio, procuram melhorar a qualidade de vida das pessoas, porque a educação do ócio é um processo aberto, que não se refere somente à infância, mas que afecta todas as idades. Kleiber propõe que, se a educação do ócio assume o valor da desconexão e relação, deveria incorporar também a formação dos pais, da educação dos professores e os serviços que se oferecem às pessoas que tenham vivênciado alguma perda nas suas vidas: desemprego, tratamentos de reabilitação, luto etc. Isto favoreceria o objectivo de restabelecer o seu sentido de segurança e estabilidade, ao mesmo tempo que se poderia aproveitar como fonte de identificação de novas possibilidades.
A educação pessoal do ócio concretiza-se em programas de actuação que, por nos centrarmos nos mais necessários, teriam como referência concreta a infância, os jovens, as famílias ou a preparação para a jubilação. A questão é que não temos tradição e, ainda que exista experiência em aspectos particulares, falta uma visão de conjunto e também uma actuação nessa mesma direcção.
O objectivo central dos programas formativos de ócio é o ócio em si mesmo e em relação com a tipologia de pessoas a quem se destinam. Em qualquer dos casos, o fim é o desenvolvimento do ócio valioso e, para ele, os meios e métodos devem ser os adequados. Outro tema diferente, é quando nos referimos à educação do ócio como meio para outra coisa, como pode ser o caso da saúde.
As relações entre ócio e educação pessoal não se limitam a estes temas que se acabam de enunciar. O ócio é um âmbito e um recurso para potenciar a aprendizagem, mas, ao mesmo tempo, a aprendizagem é mais uma opção de ócio com a qual poucas vezes pudemos contar.
Cuenca Cabeza, M. 2008 Novas necessidades de formação pessoal centradas no ócio, um desafio para a Animação Sociocultural, pp.282 – 295. Em Lima Pereira,J.D.; Vieites, M.F. e de Sousa Lopes, M. (coords) A Animação Sociocultural e os Desafios do Século XXI. Ponte de Lima (Portugal): Intervenção – Associação para a Promoção e Divulgação Cultural