Ócio criativo. A aprendizagem como ócio

Ócio criativo. A aprendizagem como ócio

En quanto seres humanos devemos crescer em nossa complexidade e, para materializar o nosso potencial, devemos explorar, descobrir e criar. Esta é a proposta de Csikszentmihalyi quando afirma que “aqui é onde reside a importância do ócio para o desenvolvimento humano”. Nos últimos anos assistimos a um crescimento do número de adultos interessados em ampliar o seu reportório de ócio aprendendo novas destrezas. Neste direção caminham certas ofertas universitárias, em boa parte os cursos de educação para adultos e múltiplas propostas de clubes ou oficinas, que, em inúmeros casos, contam com o apoio institucional. Num estudo realizado pela grande organização suíça de educação de adultos, EcolesClubs Migros, concluíase que a demanda de educação de adultos relacionada com o ócio vem a crescer nos primeiros anos deste século e será determinante para mais de metade da oferta dos programas. Analisando os dados de outros países esta previsão é facilmente transladável à maioria dos países desenvolvidos.

Paralelamente aos cursos em torno do desporto, manualidades ou arte, organizados por clubes desportivos, centros culturais, museus ou centros de férias, começaram a desenvolverse nos últimos anos as designadas férias educativas para adultos. Inicialmente relacionavamse com desportos e idiomas estrangeiros, mas neste momento oferecem-se em todo o tipo de campos: ténis, baile, esqui, fotografia, fitness, filmagens de vídeo,jardinagem, gestão ou produção de programas de radio e televisão… Independentemente do êxito que foram alcançados as oficinas, em que se aprendem habilidades diretamente encaminhadas a práticas de ócio, para muitas pessoas converteramse numa experiência de ócio e mera possibilidade de continuar a aprender e estudar aquilo que sempre quiseram aprender.

O estudo realizado em Salamanca com 400 pessoas entre 75 e 104 anos (Buz et al., 2004) concluiu, entre outras questões, que as pessoas que realizavam mais atividades de tipo intelectual estavam mais satisfeitas com a vida e tinham melhor estado de ânimo. O estudo de Maria López-Jurado Romero de la Cruz, “ Cambios en salud y bienestar de los alumnos universitarios mayores con un modelo interdisciplinario de intervención clínica y educativa” (2004), realizada na Universidade de Granada é outra prova dos benefícios conseguidos com estas intervenções educativas. Os resultados de formação, depois de ter iniciado um programa multidisciplinar baseado numa intervenção desenhada a três níveis: educação para a saúde clínica e psicossocial, educação para a saúde física e educação nutricional; demonstraram que se conseguia nos alunos uma significativa melhora da sua qualidade de vida.

Um outro terceiro estudo, o de Carmen Serdio Sánchez, “Mujeres que envejecen, mujeres que aprendem”(2006, 120) assinala que, em muitas mulheres “a educação faz-se presente nas suas vidas como uma alternativa de ócio e tempo livre, que assume significados novos que superam um prolongamento do exercício dos papéis domésticos. Para muitas mulheres que na atualidade buscam formas de viver satisfatoriamente o seu processo de envelhecimento, a experiência educativa se constitui, então, em plataforma de descoberta e intercâmbio de novos interesses, hobbies, entretenimentos, atividades sociais, etc., alternativas ou complementares às que já exercem e que contribuem para enriquecer o seu conceito e a sua vivência do ócio como valor de desenvolvimento pessoal.

Este processo supõe, portanto, uma reorganização e ampliação das suas atividades de tempo livre, um maior desenvolvimento da dimensão recreativa como aspeto importante nas suas vidas, e uma certa evolução de atividades de entretenimento passivo e associadas ao doméstico, até à experimentação, por vezes partilhada, com atividades mais ativas e singulares.” Estas e outras importantes afirmações da investigação chamam a atenção sobre o papel que têm os processos formativos de adultos no desenvolvimento de novos hábitos de ócio. Para além da busca de relações sociais, o entretenimento, passar um tempo agradável, combater a solidão, a tristeza ou a evasão de circunstâncias vitais dificultosas, que são as motivaçõesque explicam muitas vezes a participação dos idosos nos processos formativos, este tipo de participação abrese á vivência de experiências de ócio de alta qualidade e de grande potência transformadora. Concretamente a aprender coisas novas e experimentar prazer no processo de aprender.

 

 

Mais informação: Manuel Cuenca Cabeza (2013) Para além do trabalho: o ócio dos reformados, Animação Sociocultural, Gerontologia e Geriatria: A Intervenção social, cultural e educativa na Terceira Idade, pp 157 – 177. Chaves (Portugal) Editorial: Intervenção – Associação para a Promoção e Divulgação Cultural

 

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